"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA


Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 26/4/2010
(próxima coluna: 9/5/2010)


DEIXAR A PREGUIÇA DE LADO

Dias desses, estava assistindo a uns vídeos de música no Youtube. Além de encontrar pérolas absolutas, como Elis Regina cantando “Corsário” em 1976 para um programa da Rede Bandeirantes (com uma dicção que chega a ser ofensiva de tão perfeita), gosto muito de ler os comentários, pois eles demonstram, mais que algumas opiniões, alguns vícios.

A opinião/vício que mais me chama a atenção é a de que “não se faz mais música como antigamente”. O antigamente aqui quer dizer década de 1960, 70, talvez 80. O comentário lamentoso geralmente está nos vídeos de compositores como Chico Buarque, Milton Nascimento, ou de cantoras como Gal Costa, Maria Bethânia, ou da própria Elis. Além do “não se faz mais música como antigamente”, outro comentário muito em voga é o “não tem mais compositores nem cantores como aqueles”.

Bom, acredito que esse tipo de opinião demonstra muito claramente o vício da preguiça, afinal as duas “verdades” podem ser facilmente desmontadas. Chamo quem reclama da falta de bons cantores e de bons compositores nos tempos atuais de preguiçoso porque me parece que é o tipo de pessoa que fica esperando que o rádio e a televisão mostrem, digam, apontem novos artistas do quilate dos já citados aqui. Eis a diferença entre o nosso tempo e a década de 60 de 70: antes Chico Buarque, João Bosco, Belchior, Caetano Veloso, Tom Jobim eram figurinhas fáceis nos programas de televisão e nas rádios brasileiras. A mídia mudou e esses artistas foram “afastados” e em seus lugares foram colocados outros, mas isso não quer dizer que eles pararam de produzir, e principalmente, que artistas tão bons quanto esses deixaram de surgir. A única diferença é que não aparecem mais na televisão. Cabe agora ao público que quer ouvir uma música diferenciada pesquisar, correr atrás, escutar quem tá fora da mídia. De nada adianta ficar lamentando a predominância do funk, do pagode, do sertanejo, esqueça, eles venceram. Cabe aos derrotados musicais parar de se lamentar e ir onde a boa música se encontra, deixar a preguiça e o saudosismo de lado, deixar de achar que Chico Buarque ou João Bosco pararam de compor nos anos 80 só por que a música deles não toca mais na televisão e ouvir o que eles estão dizendo agora, quase sempre tão ou mais interessante do que o já dito.

Reafirmo: eles continuam tão bons quanto, senão melhores e na sua esteira surgiram grandes compositores e músicos como José Miguel Wisnik, Chico Pinheiro, Paulinho Moska etc (com muita ênfase no etc.). Além das cantoras: Monica Salmaso, Teresa Cristina, Mariana Aydar e dezenas de outras, afinal esse pais é um celeiro para mulheres cantantes. Por isso, conclamo aos lamentosos, vamos deixar a preguiça e a dependência da televisão de lado e vamos caçar os bons músicos desse País. É tarefa bem fácil e sempre muito surpreendente.

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