Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 75
(Próxima: 20/8/2009)

Algumas divindades marinhas

Após a união de Urano e Gaia, na primeira fase do Cosmo, seguiu-se uma numerosa descendência com o surgimento dos Titãs, Titânidas, Hecatonquiros, entre outros. Os Titãs representavam as manifestações elementares em evolução, como o Oceano, concebido inicialmente como um rio-serpente em torno da Terra. A titânida Tétis simbolizava a fecundidade feminina do mar, e fez de Oceano o pai de todos os Rios e das Oceânidas, Ninfas dos mares que personificavam riachos, fontes e nascentes.

As Sereias eram filhas do Rio Aqueloo, e participaram do cortejo de Perséfone. Quando Hades raptou Perséfone, Deméter, irritada por elas não terem impedido o rapto da filha, teria transformado as Sereias em monstros.  Elas cantavam de modo maravilhoso para os marinheiros, os quais perdiam a direção dos navios contra os rochedos antes de serem devorados. Dois heróis conseguiram resistir aos seus encantos: Orfeu e Ulisses.

O lendário filho da musa Calíope, Orfeu, participou da expedição dos Argonautas em busca do Velo de Ouro. Quando os navegantes passaram pelo Mar das Sereias, Orfeu anulou a hipnose delas com sua música. Na Odisseia, Homero narrou a aventura de Ulisses enfrentando as Sereias. Seguindo instruções da feiticeira Circe sobre como resistir às cantoras, mandou a tripulação tapar os ouvidos com cera e ficou atado ao mastro do navio, enquanto ouvia a voz das Sereias e resistia ao seu canto.

O deus do Mar era Poseidon, que participou com Zeus e outros irmãos da batalha contra os Titãs antes de dividirem o Universo em três reinos. Zeus ficou com o Olimpo  e Hades com as entranhas da Terra. Antes de dominar o mar, Poseidon foi um deus ctônio que fazia a terra oscilar. Depois se tornou o sacudidor do mar e domador de ondas, invocado como protetor dos navios e passageiros. Percorria as águas na carruagem guiada por criaturas marinhas. Quando os homens se organizaram em cidades e os deuses escolheram onde seriam honrados, Poseidon ficou a ilha de Atlântida, um reino rico em flora, fauna, pontes, canais, labirintos, cidades subterrâneas e tesouros minerais. A ilha desapareceu tragada por um cataclismo, ou destruída pelo próprio Zeus com terremotos e maremotos, por causa das perversões de seus habitantes.

Antes de Poseidon reinar, a divindade marinha mais antiga era Ponto, o Mar, que deu origem sozinho a Nereu. Em outra versão, Ponto teve filhos com Gaia. Era representado como um velho segurando um peixe, símbolo das antigas entidades marinhas, ou como um tritão, metade homem, metade peixe. Teve como descendentes mais de cinquenta Nereidas, que viviam no fundo do mar e personificavam as ondas. As mais importantes foram Galateia, Anfitrite, esposa de Poseidon; e Tétis, mãe do herói Aquiles. Eram representadas jovens e bonitas, com vestes esvoaçantes.

Tritão, como muitas antigas divindades marinhas, foi considerado filho de Poseidon e Anfitrite. Com corpo humano e cauda de peixe, vivia no fundo do mar e provocava tempestades, assumia diferentes formas e movia rochedos e ilhas. Muitos acreditavam que havia mais de um Tritão e todos eles faziam parte do séquito de Poseidon, assim como as Nereidas. 

Proteu era outro antigo deus do mar, representado de forma semelhante a Nereu, um velho capaz de se metamorfosear em várias coisas e responder a qualquer pergunta. Sua ascendência não foi mencionada pelos mitógrafos, mas pela inconstante natureza das divindades, não seria errado dizer que Ponto, Nereu, Tritão e Proteu  sejam diferentes aspectos de uma única e antiga entidade marinha. 


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