COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 99 - 6/3/2011
(próxima: 21/3/2011)

          

Melancólico Encerramento

Estou de luto. Estou  decepcionada realmente com acontecimentos que interceptam os passos de nossa literatura. Isso aconteceu durante a semana que passou.

Montei bibliotecas em diversos lugares da capital da República para que as pessoas pudessem ter o prazer de uma boa leitura e até de trocar ou levar para casa um livro. Seria mais uma oportunidade de intercâmbio cultural  principalmente para aqueles que não têm oportunidade de ter contato com os livros.

Uma das bibliotecas  era localizada numa Farmácia cujo dono eu conheço há bastante tempo e que depois de uma larga experiência resolveu abrir sua própria farmácia. Esse farmacêutico amigo ficou entusiasmado com a possibilidade de oferecer aos seus clientes os livros que eu selecionara de minha própria casa. Era um ponto de curiosidade e apoio para todos que frequentavam a farmácia e enquanto esperavam ser atendidos. Muitos iam lá apenas para trocar ou devolver os livros que haviam levado.

Isso aconteceu há quase três anos e ficamos encantados com a difusão da literatura e artes num ponto em que as pessoas geralmente chegam  por vezes deprimidas com os próprios males.

Essa semana recebi um recado de Walmir, o farmacêutico responsável que recebera uma visita da Vigilância Sanitária e que o ameaçara de multar a farmácia pela presença dos livros. Ele argumentou que os mesmos estavam ali apenas para serem lidos e já faziam parte do interesse dos clientes.

O que terá o fiscal identificado de tão mal nos livros ali depositados? Seria ácaro? Seria poeira? Não acredito nesse argumento, pois como sabemos todos os medicamentos são hermeticamente fechados às vezes até com dificuldade de abri-los e invariavelmente contém a bula de papel. Este não seria um indutor para a produção de ácaro, assim como o seu invólucro e a sua caixa de papel?

Tenho convicção de que faltou ao agente público sensibilidade para a sua decisão. É importante ressaltar  que a este fiscal cabe verificar as irregularidades e por elas propor correções. Não creio, no entanto que o livro fizesse  parte delas.

Tive que agir no prazo de cindo dias dado pela Vigilância Sanitária e fechei tristemente o Espaço Cultural posicionada num cantinho da farmácia, recolhendo os livros que tão cuidadosamente escolhera para o deleite dos clientes.

A insensatez fechou uma porta  extinguindo uma mini biblioteca, mas a nobreza de atitudes do grupo Gazal dirigido pelo conceituado empresário Antônio Matias recebeu os livros de forma imediata para a colocação em biblioteca por ele mantidas.

Respeitei a ordem da Vigilância Sanitária cujo trabalho sempre admirei lamentando esse episódio e principalmente a atitude radical de suas decisões, retirando friamente uma biblioteca já tão necessária ali naquele ambiente.

Há certos momentos na vida que precisamos usar o discernimento e a humanidade mesmo em regras absolutamente precisas mesmo porque tenho certeza que os livros ajudavam as pessoas e já era um ponto de encontro também com as letras.

Estou de luto, mas realmente feliz porque ainda existem pessoas que compreendem o valor da leitura. Agradeço ao Farmacêutico Walmir seu carinho para o nosso espaço cultural que se extingue ali tão melancolicamente.


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