Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 135
(próxima coluna 19/5)

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Esse direito - o de matar um veado ou uma vaca - nos parece natural porque nós estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro entrasse no jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem Deus tivesse dito: Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas, para que toda a evidência do Gênese fosse posta em dúvida. O homem atrelado à carroça de um marciano - eventualmente grelhado no espeto por um visitante da Via-Láctea - talvez se lembrasse da costeleta de vitela que tinha o hábito de cortar em seu prato. Pediria (tarde demais), desculpas à vaca. - Milan Kundera

Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais. - Abraham Lincoln

O circo ensina as crianças a rir da dignidade perdida dos animais. Nesse caso, a 'humanização' dos bichos reflete claramente a falta de humanidade das pessoas projetada em um macaco de vestido, camuflada sob os risos. Olegário Schmitt


Queridos leitores,

Deixo aqui um texto bastante interessante do Gary Francione, que admiro muito por sinal. Ele é um abolicionista que não aceita o bem-estarismo e coloca o veganismo como perfeitamente praticável por qualquer pessoa, basta querer. E não como uma atitude extraterrestre, só para iniciados que já atingiram um grau de consciência absurdo. Reconheço que falar de abolicionismo, escravidão, exploração, em relação aos animais não humanos é um tema que requer uma certa capacidade de abstração e também o desejo de nos libertarmos de certos vícios que estão ligados a sofrimento, escravidão, etc.

Temos dificuldade em ver a realidade sobre aquele alimento que aprendemos ser tão inocente, sempre atrelado às belas propagandas (interessadas apenas em vender) onde aparece a vaquinha feliz na lata de leite, a galinha sorrindo na caixa de ovos e por aí vai.

Se desconstruirmos tudo isso, começaremos a ver como, ao contrário do que é mostrado nos anúncios, esses tão "inocentes" alimentos estão atrelados à dor, sofrimento, exploração e quando nos libertamos deles nos sentimos mais leves, primeiro ao não contribuir com a dor alheia, segundo ao diminuir o sofrimento do nosso planeta e terceiro em relação a nossa própria saúde que melhora muitíssimo.

Agir visando o bem, praticar o bem, só nos traz benefícios. É respeitando todos os seres e nos respeitando que seremos respeitados. Comece praticando: Não use pele de animais (couro também é pele)

Não use produtos testados

Não vá a rodeios, circos com animais, vaquejadas, farra do boi

Não compre animais, adote-os. (Vida não se compra)

Não os coma, não os use. Os não humanos não existem para servir aos humanos!

O veganismo não é radical, é justo. Pratique, seja solidário com a vida!

Fonte: http://www.sentiens.net

Texto do Blog de Gary L. Francione

25 de março de 2008

Uma das coisas que me dizem com freqüência é que educar as pessoas, particularmente aquelas que não conhecemos, sobre o veganismo, é difícil.

Ao contrário, nossas interações cotidianas com as pessoas oferecem muitas oportunidades para discutir o veganismo. Este ensaio tratará de dois exemplos. Tratarei de outros em ensaios futuros.

Por exemplo, em janeiro deste ano, tive de levar Robert, um dos nossos cachorros, a um especialista na Escola de Veterinária da Universidade da Pennsylvania. Havia uma mulher — vou me referir a ela como “Jane” neste ensaio, mas este não era seu verdadeiro nome — sentada na sala de espera. Jane estava com uma cadela galgo. E como sempre acontece quando dois humanos estão num lugar desse com seus companheiros não-humanos, começamos a conversar sobre que problemas de saúde tinham nos levado até a Penn. E isto levou a como Jane adotou sua cachorra junto a um grupo de resgate e como nós adotamos o nosso cão quando ele estava vivendo embaixo de um carro abandonado.

Depois de falar durante um ou dois minutos sobre como é horrível a indústria da corrida de galgos, eu contei a Jane que já tinha lecionado na Universidade da Pennsylvania há muitos anos, e que a Penn era famosa pelos horríveis experimentos, testes e procedimentos “educacionais” que realizava em cachorros e outros animais não-humanos. Ela disse que tinha ouvido falar nos experimentos com animais da Penn, e eu mencionei como era estranho que uma parte do prédio fosse voltada à aplicação da medicina veterinária para ajudar os animais que eram amados pelos humanos, e uma outra parte do prédio fosse voltada a torturar os não-humanos que não eram membros de nenhuma família humana. Jane afirmou que realmente não fazia sentido tratar alguns cães e gatos como membros da nossa família e tratar alguns cães e gatos como “instrumentos de pesquisa”.

“É a pura verdade”, falei. “Mas, em muitos aspectos, somos todos exatamente como esses veterinários da Penn. Alguns animais nós tratamos como membros da família; outros, nós machucamos”.

Ela parecia confusa: “Como assim? Eu jamais faria mal a um cão ou um gato.”. Mudei a conversa, parando de falar sobre cães e gatos e começando a falar sobre vacas, porcos e galinhas, e sobre como estes animais não são, na realidade, nem um pouco diferentes dos cães e dos gatos. Há algo de muito estranho no fato de considerarmos alguns não-humanos como membros da nossa família, seres que amamos e que reconhecemos terem a condição de pessoa, e, ao mesmo tempo, enfiarmos garfos em outros animais nada diferentes — tanto moral quanto empiricamente — daqueles que amamos.

Jane ficou em silêncio por um instante e perguntou: “Você é vegetariano?”.

“Sou vegano”, respondi.

“Quer dizer que você não bebe nem leite?”, ela perguntou.

“Correto. Não como ovos nem laticínios”.

“Não comer carne eu entendo. Mas o que há de errado com os ovos e os laticínios?”.

“Tudo. Os animais usados na indústria do ovo e do laticínio são mantidos vivos por mais tempo do que a maioria dos animais usados para carne, são mais maltratados ainda e acabam indo parar no mesmo abatedouro horrível”.

Jane parecida perturbada.

“Mas não é superdifícil ser vegano?”, perguntou.

“Absolutamente não,” respondi. “É inacreditavelmente fácil e é melhor para você e para o planeta. É a coisa certa a fazer, se você considerar os não-humanos membros da comunidade moral”. Passei alguns minutos falando sobre os benefícios da dieta vegana para a nossa saúde e sobre o desastre ecológico que é a agricultura baseada na criação de animais.

Nossa conversa parou por uns 30 segundos e então Jane perguntou: “Você poderia me conseguir alguma informação sobre como me tornar vegana?”.

“Claro. Me dê seu e-mail”. Ela deu.

Conversamos durante mais alguns minutos sobre a grande variedade de alimentos veganos já disponíveis, e Robert e eu fomos então chamados para a consulta. Quando saímos, Jane tinha ido embora. Naquela tarde, eu lhe enviei várias coisas para ler sobre veganismo — material sobre as questões morais, as de saúde humana e as ambientais que dizem respeito ao veganismo, e informações práticas sobre nutrição e sobre como preparar comida vegana de maneira rápida e fácil. À noite, recebi uma breve resposta: “Obrigada. Vou ler isto com interesse”.

Duas semanas atrás, recebi um e-mail de Jane — a primeira notícia que tive dela desde que lhe mandei o material. Parte do e-mail dizia: “Já estou 60% vegana e me empenhando para ficar 100%. Já me sinto melhor tanto em termos espirituais quanto físicos. Estou usando a comida canina vegana que você recomendou, e ela adora! Obrigada por dispor de seu tempo”.

Hospitais e consultórios veterinários são sempre ótimos lugares para se iniciar conversas sobre veganismo. As pessoas estão concentradas em seus companheiros não-humanos e bastante abertas, emocionalmente, a pensar de forma mais abstrata sobre animais não-humanos em geral. Não consigo me lembrar de ter jamais estado em um consultório veterinário sem que iniciasse uma conversa que desviasse para o veganismo (já tivemos sete cachorros de uma vez, todos salvos do abandono, então temos muita experiência em consultórios veterinários).

Outro ótimo lugar para se conversar sobre veganismo é dentro de um avião.

Quando você pede algum tipo de refeição especial em um vôo, essas refeições normalmente são servidas primeiro. A comissária de bordo vem e pergunta se você pediu uma “refeição especial”. Eu sempre respondo: “Sim, pedi uma refeição vegana sem qualquer produto de origem animal que seja”. Na maioria das vezes, a pessoa sentada ao meu lado, ou as duas pessoas sentadas à minha esquerda e à minha direita (se eu estiver no meio) me perguntam se eu sou alérgico ou por que eu pedi uma refeição daquela. É claro que isso abre as portas para uma discussão sobre o porquê de eu ser vegano. Dependendo do tempo que se passar entre eu pegar a minha refeição e as outras refeições serem distribuídas, 20% das pessoas com as quais eu conversei perguntam à comissária, quando ela vem com o carrinho, se há outra refeição vegana disponível. (Na verdade, eu nunca começo a comer minha comida até que o carrinho venha, no caso disso acontecer e não haver uma refeição vegana extra, porque assim dou a minha com o maior prazer ao meu vizinho, como já fiz em várias ocasiões).

Algumas das melhores discussões que tive sobre direitos animais e veganismo ocorreram em aviões, particularmente em vôos transatlânticos. Você está preso ao lado de alguém por cerca de 7 horas e normalmente as pessoas ficam bem felizes em passar pelo menos parte daquele tempo conversando com quem estiver sentado perto delas.

Uma das minhas histórias favoritas aconteceu alguns anos atrás. Eu estava rumo a Paris, sentado perto de uma mulher com um casaco de pele. Ela não estava vestida com o casaco, que se encontrava no assento. Eu lia um exemplar do meu livro Introduction to Animal Rights, do qual, na ocasião, cogitava fazer uma segunda edição, e considerava as mudanças que poderiam ser feitas. A decolagem do aeroporto de Newark atrasou, então conversamos um pouco sobre as conexões que teríamos de fazer em Paris. Ela viu meu livro e perguntou: “Esse livro é bom?”. Sorri e disse que era um livro “excelente”! Ela me perguntou se eu era “um desses tipos a favor dos direitos animais”. Respondi que era, e ela passou os 30 minutos seguintes (enquanto ainda estávamos no portão) falando sobre seus 2 cachorros e quanta saudade ela iria sentir deles durante sua viagem de negócios a Paris, etc.

Então ela levantou o problema do seu casaco de pele. Disse: “Meu casaco deve ofendê-lo. Desculpe”. Começou a me explicar que o casaco era feito de raposas “criadas em fazendas” e que os animais não eram capturados em armadilhas. Expliquei como os animais das “fazendas” são tão torturados quanto os capturados em armadilhas, mas afirmei que achava que seu casaco de pele — fosse de raposas “criadas em fazendas”, fosse de raposas capturadas—não era mais ofensivo do que um casaco feito de couro ou lã. Ela pareceu perplexa com o que eu disse: “Você não veste nem couro nem lã?”. “Não”, respondi. “Sou vegano”.

Passei os 15 minutos seguintes (ainda no portão) explicando o que é veganismo e assegurando-lhe que o veganismo oferece uma grande variedade de opções saudáveis e excitantes, e é a escolha lógica para qualquer pessoa que se importe com os animais não-humanos. Depois eu mencionei que as raposas que haviam sido mortas para fazer seu casaco não eram nem um pouco diferentes dos cachorros que ela estava tão triste por deixar em Nova York durante duas semanas. Então começamos a conversar sobre a nossa “esquizofrenia moral”, que afeta e infecta nosso pensar sobre os animais não-humanos.

O avião decolou, as refeições começaram a ser servidas, eu peguei a minha comida vegana e minha vizinha imediatamente perguntou à comissária se havia uma refeição vegana extra. Havia, e ela a pediu. Passamos algumas horas seguintes conversando sobre direitos animais e veganismo, e eu confessei que era o autor do livro sobre o qual ela havia perguntado!

Cerca de dois meses após aquele vôo, recebi um e-mail dela. Ela havia dado seu casaco de raposa a um grupo de defesa animal que o usaria em manifestações contra as peles, havia encomendado o Introduction to Animal Rights na Amazon.com e o havia lido. Ela estava se empenhando em se tornar vegana, por meio de uma técnica que eu havia lhe sugerido, em que ela não comia nenhum produto de origem animal em uma das refeições diárias, depois fazia o mesmo em 2 das refeições diárias, depois em todas as 3, e depois em todos os lanches também. Outros 2 ou 3 meses se passaram e ela escreveu para dizer que estava completamente vegana.

A educação vegana apresenta muitos desafios. Vivemos numa cultura em que quase todo mundo pressupõe, sem pensar, que consumir produtos animais é “normal” ou “natural”. A educação vegana é um trabalho que demanda muito tempo; freqüentemente, significa trabalhar a dois, de pessoa para pessoa, e investir bastante tempo nisso.

Mas a vida diária nos apresenta toda sorte de oportunidades para educarmos os outros, e as oportunidades mais efetivas são as trocas calmas e amistosas entre dois seres humanos pensantes.

E todo indivíduo que adere ao veganismo é uma contribuição vital à revolução não-violenta que eventualmente desviará o paradigma dos animais como propriedade, mudando-o na direção dos animais como pessoas.

Gary Francione é professor de Direito e Filosofia na Rutgers University, EUA. Conhecido internacionalmente por sua teoria abolicionista dos direitos animais, é um crítico implacável das leis do bem-estar animal e da condição de propriedade dos não-humanos. E-mail: gfrancione@kinoy.rutgers.edu.

Regina Rheda é escritora premiada, vegana desde o ano 2000 e mora nos EUA. Seu website é http://home.att.net/~rheda/RRHPPortg.html. E-mail: regina.rheda@yahoo.com.br.


Esta coluna é atualizada mensalmente, dia 19.
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