Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 138
(próxima coluna 19/8)

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Olá queridos Leitores,

Gostaria de falar hoje sobre dois temas diferentes que no fundo se complementam. Sei que a coluna está focada no veganismo, a favor da liberdade dos animais e contra qualquer forma de exploração e violência. E falo sempre em todas as áreas em que não humanos são usados e assassinados.

Mas hoje falarei do amor, um sentimento nobre e tão banalizado a ponto do ser humano ter vergonha de sentir, achar piegas, quando não é nada disso. O amor que sinto pelos animais é tão grande, tão maior do que qualquer tipo de sentimentalismo, puro, sem egoísmos, sem querer nada em troca, sem apego. E grande o suficiente para saber que preciso ajudá-los, que muitos humanos ainda não despertaram para o verdadeiro amor e ainda não conseguem ouvi-los (apenas alguns).

Sua fome, sua dor, sua saudade e a maioria o vê apenas como mais um animal abandonado, mais um cão sarnento. Por que perdemos esse amor? Como disse uma amiga: respeito a gente pode perder pelo outro, amor não.

Quando deixamos que um animal procrie, quando compramos, abandonamos, estamos contribuindo não só para uma dor enorme causada a eles, mas estamos cometendo um crime também. Esses animais que abandonamos, como se fossem objetos velhos indesejados, que compramos para suprir nossa carência e deixamos procriar porque é bonitinho ter um filhote ou porque pode ser lucrativo são transformados de ser vivo em coisa, em mercadoria, e quando isto acontece, estarão sujeitos a todo tipo de maus tratos e barbáries como ser espancado, passar fome, sede, ser atropelado, ser envenenado ou então ir para um CCZ (centro de controle de zoonoses) onde terão duas opções: ser morto (câmaras de gás) ou levado a um centro de pesquisas para ser estudado VIVO (vivissecção).

Estão vendo a ligação? Podemos dizer que o ser humano está sendo impulsionado pelo amor? Onde fica esse amor tão maior que existe dentro de nós? Quem ama não abandona, não mata, não usa, não tortura, não trata mal e não compactua com isso tudo. Podemos fazer diferente, é só querer.

OS: Vários animais do Leme ( RJ ) estão precisando de adotantes. Cães e gatos que foram abandonados, tão lindos e amorosos quanto qualquer outro, independente de raça. Nós somos mestiços e queremos ter um cão e/ou gato de raça pura? Quando todos precisam de nós? Caso se interessem liguem para mim. Bárbara – cel: 8319-0060 e email: psinaweb@gmail.com

Segue abaixo um texto impressionante, aconselho a todos a leitura.

O texto a seguir é o relato do que sente um animal ao ser usado numa aula de medicina, onde é submetido a um terrível procedimento.

Tivemos como base relatos de aulas onde práticas similares ocorreram. Não afirmamos que isto seja o comum em faculdades médicas onde se usa animais. Todavia, tampouco acreditamos nas alegações, de professores e alunos destes cursos de que os animais "nunca sentem nada". Mesmo quando se procura poupar o animal do sofrimento, este sempre existe, até porque não é apenas físico, mas também psicológico.

Na verdade, toda dor, ou mesmo dor nenhuma, é sempre um abuso, no contexto de qualquer atividade que utiliza animais como recursos, violando a liberdade com que foram criados, muito antes que os seres humanos existissem e se arrogassem o papel de "superiores".

DOR

"O fisiologista não é um homem comum: é um cientista, possuído e absorvido na idéia científica que persegue. Ele não ouve os lamentos dos animais, ele não vê o sangue que corre, ele não vê nada exceto sua idéia, e não percebe nada exceto um organismo que oculta a resposta para o problema que está buscando resolver." ( Claude Bernard, fundador da vivisseçcão moderna, meados do século XIX )

"Quem já viveu a dura experiência de encarar um cão subanestesiado tendo suas vísceras extraídas, e ao olhar seus olhos ver lágrimas, apenas lágrimas como manifestação de dor, já que toda sua musculatura está paralisada pelos bloqueadores neuromusculares, sabe exatamente do que estou falando" (Dr. Marcelo Andrade, médico cardiologista, lembrando a experiência nos tempos de graduação, final do século XX ).

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Um dia antes, ele foi deixado ali. Preso numa gaiola, numa sala escura. Por todos os lados, outras gaiolas, com outros animais. No silêncio, ele fica acordado, presa de expectativa. Já cansou de latir, uivar, e agora apenas espera – pelo que não sabe nem pode prever. Foi trazido de algum lugar (um Centro de Controle de Zoonoses da prefeitura), depois de ter sido apanhado pela carrocinha – um cão que vivia solto nas ruas. Sem lar, sem nome, esteve próximo da execução no CCZ, mas enfim alguém se apropriou dele. Uma faculdade – uma das muitas faculdades de medicina que ainda usam animais.

O tempo passa. Vez ou outra, um ruído próximo: outro animal se move ou suspira. Com fome, arrepiado (é frio, o depósito), o cão mantém-se quieto, enroscado em si mesmo. Os olhos varrem o escuro, mas sabe que adiante estão as grades. Então, um som. Um filete de luz surge ao rés do chão.  E uma porta se abre. Um homem vestido com uniforme azul entra na sala, enquanto animais acordam e começam a latir. O cão na gaiola se levanta e, não sendo bravo, aperta os olhos para acompanhar o movimento. Vê as grades se abrirem, é seguro por mãos firmes e comprimido junto ao peito.

De repente, está no meio da luz. O contato do uniforme o esquenta, as mãos têm delicadeza. O homem tranca o depósito, os latidos dos animais ficam distantes. Cruzam um corredor de paredes brancas e janelas gradeadas. Cruzam outra porta e, no momento seguinte, o cão vê-se entre uma dezena de pessoas. São rapazes e moças, vestidos com jalecos brancos – alguns parecem tensos. Farejando o ar, o cão percebe medo e o coração bate mais forte. Há um clima tenso e todos o seguem com o olhar. No silêncio da sala, um homem maduro, também de jaleco, toma-o das mãos do primeiro homem e diz alguma coisa. O-B-R-I-G-A-D-O (o tom soa tranqüilo).

Sozinho, o cão busca em redor. Numa janela, o começo da manhã: um pátio, pessoas, carros parando. O coração batendo, ouve o professor falar aos estudantes. Alvo de olhares, sente a tensão crescer, mas nem todos estão tensos. O silêncio continua grande, entre cada palavra do homem de branco.  Não há tanta delicadeza, agora – as mãos apertam seus rins. Algo como ser pego com pouca atenção. Chega o momento em que o homem pára de falar e dois rapazes acercam-se do cão. Pares de mãos colocam-no sobre uma mesa – de costas sobre o frio alumínio. Os jovens mantêm-no nesta posição, enquanto o professor toma cada uma das patas e estende, amarrando com barbante.

O cão vê tudo de cabeça para baixo. No crânio, a pressão da mesa, o frio nas orelhas e no dorso. Tenta se mover, mas as pernas estão esticadas para fora. Quanto mais luta, mais forte é a pressão nos pulsos. Sentindo o ar, percebe a tensão, agora dominante – o coração batendo muito rápido. Sem ver a janela, o cão escuta o homem falar, palavras que não entende, avisos que não entende e instruções que não entende. Se pudesse entender, saberia que tratam da importância do conhecimento científico e da necessidade de observação imparcial do que será feito.

Então, sente uma picada - acabam de lhe aplicar uma injeção. E é como se o corpo lhe escapasse, os músculos relaxando pouco a pouco. Ele continua consciente, mas não pode mais se mover.

O cão escuta um som metálico – uma caixa é colocada ao seu lado. Uma moça, de vinte e poucos anos, tira um objeto brilhante e o entrega ao homem de jaleco. O coração bate sob a pele, os pulmões respiram com rapidez e há uma ânsia de latir. A dor nos pulsos fica mais angustiante. Já não vê a janela, mas ouve ruídos, sons vindos de longe. O cão olha em redor de si, até onde consegue vê frascos escuros e cartazes com desenhos (Anatomia Humana). Nesse momento, o grupo aproxima-se, fecha-se em torno: uma dezena de jalecos brancos e, mais próximo, o professor. Então, sente uma dor aguda – começam a cortar sua barriga.

O coração dispara, o cão tenta soltar-se, a dor fica insuportável. Tenta bater as pernas, mas nada acontece. Os pulsos estalam, o pescoço incha, os olhos ficam vermelhos e um gemido escapa pela boca inerte. Como queria ganir – desabafar a dor! O corpo quente diante de seus olhos debruça-se, o ventre arde e queima enquanto o bisturi avança. O cão grita, mas o som perde-se na garganta. Não ouve um som, apenas as batidas surdas do coração. Ninguém fala, existe apenas a tensão contida. Movendo a cabeça, vê jalecos amarelos (a visão se embaça), rostos rígidos e atentos. Os olhos não piscam, mas evitam os seus.

Sobre a mesa, o cão treme. Agora mal se percebe sua respiração – mas ainda está vivo. Um calor brota de si, escorre pelo corpo, empapa seu dorso – sangue jorrando. A mente nublada, os olhos escuros, sente o bisturi parar. Mãos abrem sua barriga. O corpo estremece, as pernas de afrouxam, enquanto as vísceras são manuseadas. O coração bate fraco, os olhos se fecham, a respiração diminui. Os jalecos se inclinam, uma voz fala no silêncio sem gemidos.

Depois, fecham-no.

E acaba a lição.

CPDA - Comitê para Pesquisa, Divulgação e Defesa dos Direitos Animais

Mais informações:

InterNICHE – uma rede mundial de professores e estudantes de ciências biomédicas em prol da substituição do uso de animais no ensino – www.internichebrasil.org


Esta coluna é atualizada mensalmente, dia 19.
Próxima: 19/8/2008

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