COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 110 - 6/10/2011
(próxima: 21/10/2011)


          

Hoje acordei recordando

Hoje acordei propensa  às reminiscências. Sentindo vontade de percorrer o quintal da minha casa na Rua Barata Ribeiro em Copacabana, onde na infância eu apostava corridas,  tentando um campeonato de patins com minhas amigas e caindo da gangorra enquanto meu irmão pulava antes do tempo.

A bola não parava levando-se em conta que nessa época minhas irmãs não haviam nascido, os da minha idade eram apenas homens e eu gostava de disputá-la com eles , deixando muitas vezes que ela caísse na vizinha que não estava disposta a participar das brincadeiras e imediatamente fazia queixas à minha mãe.

Quando estava cansada de brincar com meus irmãos  ou primos corria para dentro de casa e sentada no escritório de meu pai, procurava  livros naquela biblioteca imensa e acabava descobrindo  um mundo que sempre adorei,imergindo nas páginas que me deixava concentrada , esquecendo por vezes  os deveres da escola. Ler era meu mundo encantado e esquecia tudo que me cercava  para fazer parte do conteúdo dos livros que eu curtia compulsivamente.

Escrevia com prazer imenso em qualquer momento da minha vida. E deixava que as palavras saíssem sem censuras espargindo meu coração que precisava transmitir com veemência. Parecia que eu só tomava consciência do que escrevera algum tempo depois de concluir o texto e aí sim, entendia o que quisera dizer.

Quando estava entediada ou queria ficar sozinha ia até à praia que era pertinho da minha casa e deixava que meus pés ou meu corpo fossem molhados pelas ondas brancas e nem sempre mansas. Falava com o mar, contava meus desejos e sonhava inexplicavelmente com o infinito que se me apresentava inatingíveis .como as faixas coloridas do horizonte e sabendo da impossibilidade de alcançá-las deixava que o sol  queimasse devagarzinho  minha pele clara.

Muitas vezes alguém da minha casa vinha me buscar sabedoras desse passeio quase constante nos dias de sol  intenso. O mar, a areia clara,  e o horizonte distante sempre foram as mais encantadoras formas de poder transmitir minhas emoções. E continua a ser , só que parece-me que  esse mesmo horizonte está mais perto e sinto-o como algo que se aproximou em dias subseqüentes  em que aprendi a conhecer a vida e a forma de procurar sobrepujar os obstáculos.  Será isso que nos faz mais compreensivos em relação à passagem do tempo?

Quando eu tinha dez anos soube que minha mãe esperava outra criança e tive certeza que seria uma menina. Estava cansada de compartilhar as brincadeiras   de cinco irmãos sempre em discussão constante  e sentia necessidade de olhar e amar uma irmãzinha e foi o que aconteceu. Nasceu uma  mulher e fiquei entusiasmada  com o rosto delicado e bonito  amei-a instantaneamente , compreendi mesmo ainda muito cedo a necessidade de defendê-la levando em conta que era mais frágil do que eu. Em seguida nasceu  outra menina  que também foi algo muito importante para mim, mas Cristina e eu estávamos sempre juntas e apesar da diferença de idade nos compreendíamos muito. Até hoje  estamos profundamente ligadas e somos confidentes inseparáveis.

Ainda revejo os tempos de criança há muitos anos quando olhava deitada num canto do jardim minhas estrelas brilhantes algumas das quais eu e meu irmão mais velho nomeávamos à noite nos dias de verão

O colégio Sacré Coeur de Marie onde estudei, foi algo que marcou tanto que até hoje me revejo  e jamais poderei deixar de lembrar cada dia  que passei lá. E olhe que foi um longo período desde muito pequenina.

O tempo passou, tive uma adolescência conturbada, mas o que me incentivou profundamente foram  as   lições que aprendi nesse caminho e a certeza que a única forma de sermos realmente felizes é  saber estender a mão sempre e entender que por vezes as coisas que nos perturbam nos fazem compreender a vida , ser feliz e desenvolver um amadurecimento  sadio e compreensivo.


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