Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 88
(Próxima: 20/3/2010)

Tânatos e Sísifo

O deus Hades reinava sobre os mortos no mundo inferior, mas era Tânatos a personificação da morte. Tânatos era filho de Nix, a noite acima da Terra. A escuridão profunda do momento da criação era o Érebo. Quando a Terra estava coberta pela obscuridade que a cobria, Nix e Érebo se uniram e houve a Luz que “clareou” o Universo. Nix gerou Tânatos, Moiras, Nêmesis, Hipno e outros. Algumas vezes Tânatos aparece como irmão gêmeo de Hipno, considerado deus do sono.

Na iconografia antiga, muitas vezes Tânatos era representado com forma alada. Diziam que tinha o coração de ferro e entranhas de bronze. Para os romanos, a morte era uma deusa chamada Mors. Tânatos tem em sua significação grega os verbos dissipar e extinguir. Nesse caso, acreditava-se que morrer significava ocultar-se, pois o morto tornava-se “eídolon”, um corpo insubstancial.

Há uma lenda que narra como Sísifo, o esperto fundador de Corinto, aprisionou Tânatos. Quando Zeus raptou a ninfa Egina, filha do deus-rio Asopo, foi visto por Sísifo, que, em troca de uma fonte para Corinto, contou a Asopo que o deus era o raptor da filha. Zeus enviou Tânatos para levar Sísifo ao Hades, mas ele conseguiu aprisioná-lo. Com a Morte presa, não morria mais ninguém, então Zeus precisou restituir ao mundo sua ordem natural e libertou Tânatos.

A próxima vítima seria o próprio delator. Sísifo se preparou para seguir Tânatos ao Hades; antes, pediu tempo para se despedir da esposa. Tramando novamente para enganar a Morte, pediu que a esposa não fizesse as honras fúnebres, assim chegou ao reino infernal sem um “eídolon”. Perante Hades, Sísifo lamentou e culpou a esposa pelo sacrilégio, pedindo permissão para voltar ao mundo dos vivos e providenciar o sepultamento do cadáver. Uma vez em seu reino, Sísifo não se preocupou em cumprir a palavra e lá ficou, vivendo até avançada idade.

Quando morreu, Sísifo foi condenado a empurrar eternamente, ladeira acima, uma pedra que rolava de novo ao atingir o topo da colina. O castigo era repetitivo e sem descanso, assim como as tarefas de outros condenados no Hades: Tântalo vivia mergulhado em água até o pescoço e embaixo de uma árvore frutífera, mas não conseguia beber ou comer. As Danaides enchiam tonéis sem fundo e Íxion girava uma roda em chamas.

Entre algumas palavras derivadas da mesma raiz de Tânatos há palavra “ tanatofobia”, medo da morte; e a palavra mais polêmica, “eutanásia”, que significa boa morte. A morte talvez seja o fenômeno natural mais discutido em religião e ciência,  e sempre há opiniões diversas e controversas. A eutanásia é uma prática pela qual se abrevia a vida alguém com doença incurável de modo controlado por um especialista, o que muitos acham que é uma espécie de suicídio assistido. A eutanásia é proibida na maioria dos países e legal em poucos, como a Holanda.

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