COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 132 - 21/11/2012
(próxima: 6/12/2012)


          

Consciência Negra

O dia da consciência negra para mim chama-se integração. Precisamos como já disse algumas vezes fazer com que negros, brancos, olhos amendoados, redondos, cabelos loiros, pretos ou castanhos, lisos ou encaracolados e diversas línguas estejam irmanados no mesmo sentimento profundo e fraterno.

A cor da pele, a religião, raça, conceitos, civilização formam um só magnífico mundo. E os negros por tudo que sofreram estão entre aqueles que merecem nosso respeito especial, tal como as mulheres de qualquer raça que já foram escravizadas pela ausência de participação e por terem sido dependentes do homem.

Tudo isso me faz voltar novamente à minha infância e lembro-me de dois tios negros que meu avô adotou e que eram amados e tinham os mesmos direitos de suas filhas.

Nós, os netos, crescemos tendo profundo respeito e carinho por aqueles dois tios, um dos quais eu tinha verdadeira admiração. Muito alto, os dentes perfeitos, sorriso fascinante que me encantava também pela confiança e segurança depositada nele. Sempre me passava as notícias que trazia naquele tempo no jornal debaixo do braço para depois levá-lo até minha avó. Os dois chamavam meus avós de pai e mãe e eram amados como filhos dedicados.

O outro era brincalhão e extrovertido, falava horas com minha mãe ao telefone e ambos estudaram bastante e eram maravilhosamente humanos e compreensivos.

Nunca pude compreender esse preconceito contra o negro já que em minha família eles faziam parte de nossa vida literalmente.

Um deles morreu há algum tempo o que nos fez curtir uma saudade intensa e doída. O outro está conosco, já se aposentou e vive com sua mulher, mas realmente nunca vi ninguém tão deslumbrado pela mãe que o criara como era esse homem que aprendi a amar desde pequenina.

Claro que pessoas egoístas, invejosas e sem o senso do direito e do dever existem em toda a humanidade em qualquer raça, religião ou ambiente, mas o doloroso é imaginar seres humanos discriminados pelos seus traços, características genéticas ou lugar em que nasceu. Sei, é claro que o preconceito existe de uma maneira quase aviltante, porém tentemos lutar pela união dos seres viventes que são nossos pares no planeta e essa luta primordial que deveria ser inerente em qualquer um de nós.

As classes excluídas são tantas e de tal forma variadas que eles mesmos se discriminam em si. Isso é terrivelmente triste e de uma perversidade avassaladora.

No Dia da Consciência Negra e em todos os dias de nossa vida precisamos entender como é importante saber discernir qualquer ato pouco generoso de nossa espécie humana e entender como foram sofridos os dias de escravidão tolhidos e maltratados por brancos que se achavam com direitos inalienáveis até de torturar. Isso é realmente uma vergonha que nos devia impulsionar a querer resgatar anos dessa história triste e vil.

Prestar homenagem à consciência negra não significa admitir um preconceito, ao contrário, é a homenagem justa que prestamos a nossos irmãos, inteligentes e talentosos que tiveram que parar tanto tempo na demonstração de suas potencialidades por motivos covardes e cheios de supremacia.

O dia da Consciência negra se comemora em 20 de novembro no Brasil pela morte de Zumbi que se dedicou à causa negra e à luta pela liberdade e constitui símbolo da resistência negra à escravidão abominante.

Embora o racismo seja negado insistentemente sabemos que ele existe e que é uma vergonha que empana qualquer ato heróico e ético da humanidade inteira.


Colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74,
75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131

Colunas de convidados especiais