"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA

Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 26/4/2012
 (próxima coluna: 9/5/2012)

Os nomes dos carros

Em crônica passada fiz uma breve reflexão sobre os nomes das pessoas. Continuo a refletir sobre esse assunto, agora pensando sobre os nomes dados aos carros no Brasil. Deve haver uma equipe considerável para encontrar um nome que se destaque, até porque o lançamento de um modelo novo já não é mais um acontecimento nacional, como era na década de 1970 e 1980. Nesse período os carros tinham nomes fortes, que iam da nacionalista Brasília ao equino Corcel que mereceu até uma continuação: o luxuoso Corcel II (em outros países havia um similar da Ford chamado de Pinto, será que existiu um Pinto II?). Os nomes dos carros mais populares desse também passavam pelo afrancesado Chevette, ao italiano Monza ou o imponente Del Rey, um dos carros mais estranhos já produzidos no Brasil. Hoje, muitos nomes são feitos apenas de números e letras, ou de termos ingleses, destituídos daquela força metafórica que um nome deveria ter.

O engraçado desse período é que um dos carros mais populares demorou décadas para ter um nome de seu. O WV Sedan conhecido por Fusca, Fuque, Fuscão, Fusqueta, Fusc, Fusquinha foi batizado pela Wolksagem apenas em 1983 pelo nome mais comum dado pela população: Fusca. Deve ter sido um caso único na indústria automobilística. Dos anos 80, talvez o único sobrevivente tenha sido o Gol. Lançado exatamente em 1980, permanece até hoje em qualquer lista dos mais vendidos. O quanto disso se deve ao nome que lhe deram? Talvez seja pura suposição, mas esse nome simples, direto, nome de algo que está na vida de todos os brasileiros, todos os dias, gostem ou não gostem de futebol, é uma baita propaganda subliminar. Realmente, a pessoa, ou equipe, que deu esse nome ao carro acertou em cheio. Mais novo que o Gol é o Uno, outro carro que pegou e mantém-se no topo. O nome não tem tanta personalidade quanto Gol, mas tem lá seu charme em três letras.

Nesses dias de verão é sabido que os uruguaios, argentinos e paraguaios costumam vir para o litoral catarinense de carro. De maneira geral, os modelos são exatamente os mesmos que os brasileiros, inclusive os nomes. No entanto, notei duas diferenças: o Spacefox é Suran na Argentina. Para mim, nenhum dos dois nomes é bom. Spacefox é essa nossa mania de “inglesar” tudo, se bem que “Raposa Espaçosa” não seja lá muito adequado também. A outra diferença que eu notei, e essa bem mais significativa foi de outro carro da Wolksvagen. O sedan de luxo Jetta é chamado de Vento na argentina. Agora, eu pergunto: por quê no Brasil deram, ou mantiveram, esse nome destituído de personalidade e de significado e ali, na Argentina, batizaram o carro com uma das mais belas palavras da língua portuguesa? Poderiam fazer uma inversão, e aqui o carro se chamar Viento. É... nem sempre os nomeadores, sejam de filhos ou de carros, pensam poeticamente.

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