Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 97
(Próxima: 20/8/2010)

Leto e os filhos de Zeus

Após uma aventura com Zeus, Leto engravidou e percorreu o mundo quando a hora do parto estava próxima. Hera, esposa legítima do deus, proibiu a terra de acolher a grávida, e nenhuma região quis recebê-la. Leto recebeu abrigo na ilha de Ortígia, que não estava fixa em parte alguma e, portanto, não pertencia à Terra. Um dos gêmeos nascidos de Leto, Apolo, mudou depois o nome da ilha para Delos e a fixou no Centro do mundo grego.

Leto passou dias sofrendo, pois Hera segurou no Olimpo a deusa dos partos, Ilítia, que fechava o caminho de Leto com o ato de manter as pernas cruzadas. Outras deusas estavam ao lado de Leto, mas nada podiam fazer sem o consentimento de Hera e a presença de Ilítia. Enviaram a mensageira Íris com um presente para Hera: um colar de fios entrelaçados. Quando colocou o colar no pescoço, a deusa liberou as energias represadas: Ilítia descruzou as pernas e desceu à ilha.

Uma variante do mito diz que, para escapar de Hera, Leto teria se transformado em Loba e se refugiado no país dos Hiperbóreos, onde teriam nascido os filhos, o que explica um dos epítetos de Apolo, Licógenes, “nascido da Loba”. Hera lançou contra a rival a monstruosa Píton e Leto fugiu para a Lícia, também “terra dos lobos”. Na Lícia, Leto parou junto a um lago para lavar os recém-nascidos e foi impedida por camponeses, que teriam sido transformados em rãs.

Leto finalmente deu à luz aos gêmeos Ártemis e Apolo. Assustada com o sofrimento da mãe durante o parto, Ártemis ficou sempre virgem, e as mulheres do seu cortejo deviam ser virgens também. Como deusa da caça e protetora dos animais, castigava quem maltratava fêmeas em gestação. Assim, também era protetora da juventude em todas as formas de vida. Ártemis personificava a independência do espírito feminino, percorria florestas, montanhas e lagos, acompanhada por animais e ninfas . Foi associada à Selene, a Lua , e passou a ser invocada no campo da magia.

Apolo, aos poucos, foi suplantando Hélio, o Sol, incorporando seus atributos. Como deus da luz, determinava os dias e noites. Dirigia o coro das Musas e a dança das Cárites, além de atributos como médico, curandeiro e protetor das artes, mas adquiriu maior importância por seu caráter profético. Em sua honra criaram templos onde buscavam o conhecimento do futuro, sendo o de Delfos o mais célebre, no local onde exterminou Píton, guardiã do antigo Oráculo. Seus conceitos influenciaram durante séculos a vida política, social e religiosa da Grécia. As máximas do seu templo pregavam sabedoria e moderação: “ conhece-te a ti mesmo ” e “ nada em demasia ” .

Leto foi muito querida pelos filhos, que vingaram a mãe matando os filhos de Níobe, a poderosa rainha de Tebas que vivia se vangloriando de ter uma prole mais numerosa que Leto. Níobe era filha de Tântalo, o rei que roubou alimentos exclusivos do Olimpo e matou o filho Pélops antes de servi-lo em pedaços aos deuses. Tântalo vivia com fome e sede eternas no Hades, enquanto Níobe foi castigada pelos gêmeos.

Apolo acertou com flechas os sete filhos dela, e Ártemis acertou as moças. O marido se matou ao saber da notícia, ou foi morto ao tentar defender os filhos. Níobe se viu rodeada pelos corpos da família e ficou paralisada de dor, o sangue petrificou em suas veias: foi transformada em uma rocha, mas continuava a chorar. Uma ventania levou a pedra pelos ares até uma montanha na Lídia, onde até hoje chora como uma fonte.

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