JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, que acaba de obter o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com

Colunas de 14/12
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Oh, oposiçãozinha fraca!

Uma das atividades favoritas da oposição tucano-pefelista nos últimos tempos tem sido confirmar tudo o que de mais desabonador o adversário que a derrotou na eleição presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, comentou a respeito de seus membros.  Quando se viu aperreado pelas denúncias de escândalos pesados, como o "mensalão", o presidente saiu-se com a desculpa de que os oposicionistas eram iguaizinhos aos petistas.  E o PSDB e o PFL participaram da absolvição generalizada de acusados nos escândalos para salvar os mandatos do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e do deputado Roberto Brant (PFL-MG), de sua grei. O eleitorado, então, não se deixou seduzir pela retórica moralista destes. Ainda assim, eles insistiram.  Os governistas, então, garantiram que a defesa da ética pela oposição era oportunista e teria fim logo depois de contados os votos.  Dito e feito!  Um mês depois do segundo turno eleitoral, tucanos e pefelistas se apressaram em confirmar tal acusação: não se ouviu a voz de nenhum dirigente do PSDB ou do PFL reclamando do insulto à inteligência do público, que paga a conta, nos depoimentos dos principais acusados de autoria do falso dossiê de alguns petistas contra tucanos.  Gedimar Passos e Hamilton Lacerda contaram lorotas patéticas e inverossímeis na CPI dos Sanguessugas e ficou tudo por isso mesmo. Os oposicionistas também desprezaram o consistente relatório do senador Jefferson Peres (PDT-AM) acusando o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) de participar da máfia das ambulâncias e apoiaram o voto em separado do senador Wellington Salgado (PMDB-MG) reduzindo a punição dele à advertência verbal. Além do ex-líder do PMDB governista no Senado, foram absolvidos pelo Conselho de Ética (?) do Senado seus coleguinhas Serys Slhessarenko (PT-MS) e Magno Malta (PR-ES).



Saudades de Lacerda e Brizola

A rodada incluiu uma terceira pizza com a ausência de qualquer comentário crítico contra o deputado eleito do PT, Juvenil Alves, preso pela Polícia Federal sob a acusação, corroborada pelo Ministério Público, de chefiar uma organização criminosa especializada em crimes financeiros, que já deu ao erário prejuízos de cerca de R$ 1 bilhão. O que o povo pode esperar de uma oposição com essa disposição de confirmar tudo o que de ruim o governo tem a dizer sobre ela? O PT, que se opunha com tenacidade e competência, não tem governado como se esperava que o fizesse, mas goza do beneplácito de governar sem uma oposição que lhe crie obstáculos. Dá saudades Carlos Lacerda, à direita, e Leonel Brizola, à esquerda: a retórica inflamada deles faz falta!



Aparelhamento competente

Sob a égide do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi fiel escudeiro e fac totum no PT e no governo, o comissário do povo José Dirceu comandou o mais caro e competente aparelhamento do Estado brasileiro de que se tem notícia. Parte do custo é financiado diretamente pela viúva na folha salarial de órgãos da administração pública e empresas estatais, entre as quais figura com destaque a Petrobras. Outra parte foi bancada por um mecenas misterioso que tanto fornecia subsídios ao caixa administrado pelo publicitário mineiro Marcos Valério quanto cobriu as despesas feitas por militantes do partido de Sua Excelência que fabricaram o falso dossiê antitucano tentando evitar a derrota, sempre tida como certa, para José Serra em São Paulo.




De comissário a lobista

Essa bomba-relógio não vai ser desativada no segundo governo Lula. Nem no que o sucederá. E daí por diante, uma vez que isso só será possível quando os companheiros usuários das "boquinhas" se aposentarem ou morrerem, só então podendo ser substituídos por alguém interessado em livrar a gestão da máquina pública da febre petista que, justiça seja feita, já vinha tomando conta dela antes da posse do atual governo federal, há quase quatro anos. Segundo O Globo , do Rio, o chefe do governo se preocupa com a possibilidade de seu ex-pau-pra-toda-obra fazer lobby para empresários utilizando contatos que ainda mantém no governo. Fora do poder, mas com afilhados em seus tentáculos, Dirceu só não faria isso se fosse tolo ou estúpido. E isso ele não é!



O mico voador

Quando o Legacy chocou-se com o Boeing da Gol nos céus da Amazônia, as autoridades brasileiras tentaram vender a hipótese esdrúxula de que os culpados pelo acidente seriam os pilotos do jatinho americano, Joseph Lepore e Jean Paul Paladino, impedindo sua volta para casa. Na verdade, o único crime da dupla foi não ter estudado português para se comunicar com controladores de vôo brasileiros que são em 97% dos casos monoglotas. Os membros do Tribunal Federal Regional da 1ª região (Brasília) mandaram a Polícia Federal lhes devolver os passaportes. Mas os passageiros brasileiros continuam pagando o mico voador dos vôos atrasados sob os auspícios do ministro da Defesa, Waldir Pires, vulgo Moleza.



HERÓIS BRASILEIROS

Antonio Fernando de Souza

O procurador-geral da República surpreendeu o País pela coragem quando, mesmo tendo sido nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, denunciou os acusados de se terem beneficiado do "mensalão" como membros de uma quadrilha de malfeitores. E voltou a agir em defesa da cidadania, como deve, ao criticar o aumento dado pelo Conselho Nacional do Ministério Público a seus colegas procuradores estaduais. Num país de pusilânimes, um homem capaz de contrariar o chefe e a corporação merece elogios.



Olha a banana!

A vítima da chantagem dos congressistas, que não votam o Orçamento enquanto o governo não liberar verbas para as emendas individuais, é o cidadão, que paga impostos como se vivesse num País de Primeiro Mundo e convive com esse conflito, típico de uma república bananeira. Nesse bangue-bangue, todos os personagens são bandidos e o único mocinho está na platéia, tendo, para tanto, de pagar uma fortuna pelo ingresso para poder assisti-lo. Não adianta tornar o Orçamento impositivo, como querem os congressistas, pois só isso não garante que estes se tornem responsáveis e cumpram sua obrigação com o espírito cívico e de dever de cidadania. Não há à vista solução que contemple o interesse da vítima.


O pêndulo de Delfim

Na semana passada, o ex-czar da economia Delfim Netto me convidou para o Conselho de Economia da Fiesp num almoço em que se confessou preocupado com o movimento pendular das últimas eleições na América Latina na direção do populismo mais irresponsável do ponto de vista do equilíbrio das contas públicas. Àquela altura já sabíamos da vitória de Rafael Correa no Equador e contávamos com a de Hugo Chávez na Venezuela, somando-se a Evo Morales na Bolívia, Nestor Kirchener na Argentina e Lula no Brasil. Mas o Financial Times publicou um artigo bastante sensato esta semana mostrando que a esquerda ajuizada e o centro continuam predominando entre nós, apesar dos reveses conhecidos e dos confirmados.


México dividido

Mais inquietante, porém, é o quadro no México, onde Felipe Calderón venceu o populista López Obrador, foi empossado, mas não terá paz para governar, pois este agora lidera um governo paralelo. Tido como favorito, o derrotado reclamou de fraude, mas a séria justiça eleitoral mexicana atestou a lisura do pleito. E, ante o fato consumado, resolveu fazer o que muita gente temia que Lula pudesse fazer aqui, se houvesse perdido a eleição para Geraldo Alckmin: "botar o bloco na rua", ou seja, o MST e outros ditos movimentos sociais de cunho revolucionário. Se Obrador conseguir mesmo paralisar a administração do adversário vitorioso, a velha democracia burguesa poderá sofrer muitos sustos entre nós .

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