JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com

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Monstros!

Em setembro de 2002, o poeta Jiddu Saldanha me pediu um texto de dez linhas para fazer parte de um manifesto que ele estava coordenando contra a barbárie, motivado pelos terroristas chechenos que mataram crianças nas escolas, pelos maus tratos aos prisioneiros de Guantánamo, pelo sangue derramado no Iraque invadido pela insanidade de George Bush, pela morte do casal de adolescentes pela quadrilha liderada por Champinha, etc. Escrevi um poema de dez versos e lhe mandei. Não chegou a ser aproveitado. Acho que o manifesto nem circulou. Mas o poema continua muito atual, como comprova a chacina do menino João  Hélio Fernandes, arrastado dependurado pelo cinto de segurança ao carro da mãe assaltado por um bando de facínoras por um longo percurso em ruas dos subúrbios da Zona Norte de uma cidade que já foi chamada de "maravilhosa".

OS DEZ MANDAMENTOS DA BARBÁRIE

Todo este povo, no meio do qual estás, verá a obra de Iahweh, porque coisa terrível é o que vou fazer contigo.
(Êxodo, 34, 10)

                                                         La rabia
se volvió filósofa,
                             su baba ha cubierto al planeta
(Octavio Paz, Nocturno de San Ildefonso)


And I'll stand o'er your grave
'til I'm sure that you're dead
(Bob Dylan, Masters of War)


               Furarei teus olhos para que não vejas o Inferno
               e te explodirei os tímpanos para não ouvires indecências.
               Arrancarei teu coração porque o amor é porco
               e pisarei em teu calo porque a dor redime.
               Vou te marcar a ferro para que sempre te reconheça
               e queimarei teu corpo para que ele não ocupe meu espaço.
               Prometo não descansar enquanto o vento não soprar tuas cinzas.
               Minha sarça vai arder e jogarei incenso na fogueira,
               minha reza é brava, meu corpo está fechado
               e a baba de minha alma vai envenenar o universo.

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