Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 176 - 1ª quinzena de maio de 2010
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 25/5/2010


Lembrança da velha senhora

A leitura de Patiguá (Rio de Janeiro, Copy & Arte, 1993), de Ulisses Bittencourt, me lembra a minha querida inesquecível mestra de francês, Maria Luísa Sabóia.

Ela era pequenina, frágil, docente no Ginásio Brasileiro, em Aparecida, bairro de Manaus. Minha professora particular, em casa dela.

Diz Ulisses Bittencourt:

“Nasceu a 29 de dezembro de 1890 e faleceu em Manaus a 24 de abril de 1970, filha do professor e doutor Gilberto Ribeiro de Sabóia e de dona Josefa Augusta de Sabóia. O casal, com seus seis filhos, se transferira do Ceará para o nosso Estado no ano de 1900, indo morar à Rua Comendador Alexandre Amorim, quando Maria Luíza tinha dez anos de idade. E na mesma casa viveu ela durante setenta anos, até morrer”.

Era solteira.

Diz Luiz Bacellar que ela era de família nobre.

“De pele muito clara e rosada, continua Bittencourt, em suas feições regulares ela era uma pessoa extremamente comunicativa, cheia de entusiasmo e bom humor. Foi mestra notável, realçando sua personalidade pela sólida formação moral e religiosa que possuía. Apaixonada pelo idioma francês, em que muito gostava de conversar, fazendo-o com a maior fluência e desembaraço, conhecia profundamente a literatura da França, tendo prazer na citação dos clássicos.

“Maria Luíza foi a primeira mulher a cursar a nossa Faculdade de Direito, tendo-se bacharelado em 1917 e passando a pertencer ao quadro da Ordem dos Advogados do Brasil.

“Muitas gerações devem a ela não apenas conhecimento de Francês, mas toda uma farta ilustração humanística. (“A Crítica”, Manaus, 4 de novembro de 1983)”.

Mas não é só.

Como seu aluno particular, eu freqüentei aquela enorme e velha casa da Rua Comendador Alexandre Amorim, durante muito tempo.

Ela morava com um irmão velho, creio que doente, e com uma empregada velha, que ela chamava a toda hora, a “Sabá”: - Sabá, veja quem está na porta. Sabá, onde está o livro?

Usava conosco o livro do Albout. E sua aula particular era belíssima, ela se perdia em declamações.

Até hoje recordo a sua bela e fraca voz, cantando, declamando Lamartine, cantante, elegante, ela era certamente uma bela artista da literatura francesa, naquela velha casa inesquecível, de teto alto, com jardins silvestres e a varanda laterais, e a sala, no meio daqueles móveis velhíssimos, grandes, escuros, da época de seus pais, de um outro tempo, de um outro tipo de gente, de um passado longínquo, elegante.

Cultíssima, era um mito. Ela era um mito.

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