JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com

Colunas de 4/10
(Próxima coluna 18/10)

Os cúmplices do monstro

Nem a família de Ademir Oliveira  Rosário consegue entender por que lhe tem sido permitido sair periodicamente (uma dessas saídas chegou a durar 20 dias) da Casa de Custódia de Franco da Rocha, nome pleonástico do hospício penitenciário, onde vive, para visitá-la. Ele é um doido perigoso e seus parentes próximos sabem disso. Já foram relacionados pela polícia 21 adolescentes molestados sexualmente por ele. Os brutais assassinatos dos irmãos Francisco, de 14 anos, e Josenildo Ferreira de Oliveira, de 13, lhe valeram a terrível alcunha de “Monstro da Cantareira”.

Aos 19 anos, foi detido por 2 meses e liberado após ter sido condenado a 1 ano e 9 meses de reclusão, em regime aberto. Há 16 anos, cometeu o primeiro assassinato e por causa dele foi trancafiado na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, da qual foi solto antes de ser julgado. Livre como suas vítimas em potencial, roubou e abuxou sexualmente de uma delas até que, em 1999, foi condenado a 7 anos pelo homicídio 11 anos de prisão pelo roubo seguido de atentado ao pudor. Se estivesse cumprindo pena, os irmãos Oliveira estariam vivos.

Mas não: o psicopata perigoso foi beneficiado por um programa de “desinternação progressiva” em São Paulo e transferido para perto de seus familiares, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo. Em teoria, ele passaria a ser avaliado com severidade por especialistas em psiquiatria e criminologia e, por isso, pode passar temporadas com a família. Também em teoria, essas visitas teriam de ser vigiadas. Como se vê agora, tudo isso é uma fantasia. A juíza substituta Regiane dos Santos considerou letra morta os laudos dos especialistas, que alertavam para a periculosidade do interno e lhe deu licença para sair. Ele aproveitou para seviciar e matar meninos. Agora a juíza e a direção da Casa de Custódia calam sobre o sangue derramado, refugiando-se no expediente burocrático do silêncio imposto por sua condição funcional.

O “Monstro da Cantareira” não sabe o que faz. Mas só o faz porque o Estado brasileiro é negligente, insensível e incapaz. Os meninos foram mortos na Cantareira por um louco, mas quem o armou foi um sistema ainda mais insano que, em nome da proteção caridosa ao carrasco insano, condena vítimas sãs e inocentes ao risco da morte impune. A juíza e os diretores do hospício deveriam ser condenados a a ouvir diariamente os gritos lancinantes de dor da mãe privada da companhia dos filhos. Até aprenderem.

Colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 4445, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116 , 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125126, 127, 128, 129, 130 , 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142 , 143, 144, 145, 146, 147, 148

« Voltar