Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 187 - 2ª quinzena de outubro de 2010
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 25/10/2010

O valor do voto

Diz “O globo” que no primeiro turno houve 18 % de abstenções. O quadro é esse:

votos brancos 3.479.340 (2,56%)

votos nulos 6.124.254 (4,51%)

abstenção 24.610.296 (18,12%)

A soma de brancos, nulos e abstenções foi gigantesca, no primeiro turno: quase 25%, o que daria para decidir uma eleição.

A soma de brancos, nulos e abstenções foi gigantesca, no primeiro turno: quase 25%, o que daria para decidir uma eleição.

Nos Estados Unidos a campanha eleitoral é acompanhada pelo seu prestígio em doações em dinheiro. Só no Brasil os partidos se envergonham disso, e a população confunde isto com compra de voto.

O voto sempre é “comprado”, mesmo quando só se vende o prestígio do candidato/a, vendido como produto. Pois as democracias modernas vivem de marketing, que são “c onjuntos de estratégias e ações que provêem o desenvolvimento, o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor, estratégias e ações que visam a aumentar a aceitação e fortalecer a imagem de pessoa, idéia, empresa, produto, serviço, etc., pelo público em geral, ou por determinado segmento desse público” (Aurélio).

Diz Bourdieu que a lógica do voto é desfavorável aos desinformado. Para que todos os eleitores possam votar conscientemente, eles tem de possuir o mesmo grau de informação, de saber, ou seja, os instrumentos culturais, o capital cultural necessário para produzir uma opinião pessoal.

Isto depende de uma espécie de sabedoria, no duplo sentido de autonomia e conformidade com os seus interesses pessoais vinculados a uma classe social específica.

Não é fácil saber quais são os meus interesses e os de minha classe social.

O pior eleitor é aquele que julga que o que está em jogo é a escolha de duas pessoas, como numa disputa de personalidades. Este é o mais perigoso, e o mais fácil de ser enganado. Basta-lhe o desempenho do candidato/a, como de um ator/a.

Ou seja, muitos agentes se perdem e se confundem e não votam a favor de seus próprios interesses, porque não sabem, ou não vêem.

O voto é “favorável aos dominantes pelo fato de ter as estruturas da ordem social funcionando a seu favor” diz Bourdieu.

Os dominados não têm chance alguma de escapar à alternativa da demissão (por meio da abstenção) ou da submissão, a não ser que abandonem a lógica, para eles profundamente alienante, da escolha individual. (Pierre Bourdieu: O sufrágio universal e a invenção democrática - Vários autores).

Isso recupera as idéias de Marx que sabia que a classe que detém os meios de produção material também detém os meios de produção intelectual.

O voto pode expressar esse desequilíbrio, mas no mundo moderno essa distinção quase desapareceu, houve um avanço sistemico graças às novas tecnologias da informação. A Internet expõe as estruturas do poder para todos. A Internet é o maior fator de democracia atual.

O perigo é o voto nulo e a abstenção, ou o tipo de voto “de protesto”, pois todo voto é “de protesto”.

O voto “de protesto” anula o voto. A abstenção anula o eleitor.

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