Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 193 - 2ª quinzena de fevereiro de 2011
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 25/3/2011

O fim das mil e uma noites?

Estamos ainda longe de compreender o que se está passando no Oriente Médio. Nem se pode dizer que é a busca democrática, pois a democracia em muitos casos nunca foi experimentada lá. Países há que não conhecem o conceito, a ação de um Partido Político. No Brasil a nossa inteligente grande imprensa conseguiu passar para a consciência nacional que partido político e político são sinônimos de corrupção. Para muita gente, por aqui, todo político é corrupto. “Eles só querem enriquecer”, dizem. Muitos até sonham com a volta da ditadura. Como se dizia antigamente: é grave, é muito grave. Pois a Democracia é uma instituição frágil e “sagrada” que custou muito caro a várias gerações de ativistas políticos que só pensavam no bem comum. Muitos pagaram com a própria vida. Outros foram “barbaramente torturados”, como disse de si a Presidenta Dilma. A Democracia não é um estado de coisa pronto, algo que um dia estará pronto. Ela se dá sempre em movimento, põe-se sempre em se fazendo e refazendo. Ela é uma revolução em si própria, um trabalho de construir-se e refazer-se constante e ininterrupto. O que aconteceria se os países do Oriente Médio se constituíssem em democracias? Qual a conseqüência disso para o resto do mundo? Mas não, estamos longe disso. A Democracia é o mais instável dos meios de governo, o mais inseguro, e o mais fluido. Tudo se move no mundo democrático, nada é eterno. Reis viram escravos, escravos viram reis. O mundo se move. É dinâmico. Não significa que todos podem fazer o que bem quiserem, mas que todos são responsáveis pelos seus atos. A passagem bruta da ditadura para a democracia é traumática. Um povo que nunca soube o que é viver em Democracia vai demorar a aprender. Pode atravessar o caos.

Ante mare et terras et quod tegit omnia caelum               
unus erat toto naturae vultus in orbe,
quem dixere chaos: rudis indigestaque moles
nec quicquam nisi pondus iners congestaque eodem
non bene iunctarum discordia semina rerum.

- Escreveu Ovidio, no início da sua extraordinária “Metamorfoses”.

A tradução de Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho assim se fez:

Antes do mar, da terra e céu que tudo cobre,
a natureza tinha, em todo o orbe, um só rosto
a que chamaram Caos, massa rude e indigesta;
nada havia, a não ser o peso inerte e díspares
sementes mal dispostas de coisas sem nexo.

O que eu amo nesse início é o Caos, a Anarquia Divina, o estado de formação das sementes ainda como massa rude e indigesta, mal dispostas, sem nexo.

Será assim que virá a ser o Oriente Médio democrático.

Que será?

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