Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 224 - 2ª quinzena de setembro de 2012
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

O relógio de dois milhões de dólares

Foram dois shows de aniversário de Michael Jackson.

No palco, ele usou um relógio alugado de diamantes no valor de dois milhões de dólares. O relojoeiro ficava numa das torres gêmeas. Lá também se alugou um colar de diamantes para convencer Elizabeth Taylor a comparecer ao show. O colar valia 200 mil dólares.

O show foi aberto por Marlon Brando, que levou a pior vaia de sua vida.

Não gostou. Sentou numa cadeira no palco e disse que aquela gente não o deixava falar.

Mas como tudo o Michael fazia, o espetáculo foi um sucesso.

Porém na manhã seguinte, após o segundo show, foram acordar o astro bem cedo.

Ele não entendeu bem por que tinha de sair dali correndo do hotel.

- As Torres Gêmeas desabaram! – gritou um secretário, desesperado. Temos de sair logo daqui.

O hotel era bem perto do desastre.

Aí descobriram que não podiam escapar dali de carro, já que as pontes estavam fechadas ao trânsito.

Como tirar do hotel Michael Jackson a pé?

Finalmente um dos seguranças do cantor, ex-policial, depois de muito esforço conseguiu telefonar para um delegado seu amigo esclarecendo que tinham de deixar a van do rei do pop passar.

E assim foi feito.

Saíram todos de Nova Iorque com tudo.

Inclusive com o relógio de dois milhões de dólares.

Foram para New Jersey, para a casa do autor dessa estória, Frank Cascio, um dos amigos de Michael desde a infância.

(Como Cascio conheceu o cantor?

Desde criança. O pai dele, um italiano, era gerente do hotel onde Michael se hospedava em Nova Iorque. O pai perguntou se tornou amigo do astro, e levou os dois filhos, ainda criança, para conhecê-lo. Foi amor è primeira vista. O rei do pop ia visitá-lo em New Jersey, ajudava a mãe de Cascio a limpar a casa, chegava a dormir lá. Adotou a família Cascio como sua família).

Posteriormente o relojoeiro processou indevidamente Michael por causa do relógio. Que ele não tinha devolvido.

Mas tudo resolvido, tiveram de pedir de volta o colar de brilhante da atriz Taylor.

Foi um horror, pois ela pensava tinha sido um presente.

Não gostou. Ela amava as joias. Ela era uma joia.

O livro, “Meu amigo Michael”, de Frank Cascio conta essa e outras estórias do astro.

Cascio era uma daquelas crianças que dormiam na cama do rei do pop, e jura que Michael não era pedófilo.

Nem gay, diz ele.

Cascio, que viveu com ele até os 35 anos, viajou com ele pelo mundo todo, e dormia na casa dele (muitas vezes no seu quarto), jura que ele não era nem pedófilo nem gay. Mas Michael era tão feminino que a maneira mais fácil de camuflá-lo para sair com ele era vesti-lo de mulher indiana. Ninguém o reconhecia, na rua.

A falsa acusação de pedofilia acabou com Michael Jackson.

A partir de então, Michael passou a desconfiar de tudo e de todos, passou a trancar-se no quarto.

Chorava compulsivamente.

A pedido dos advogados, deram 30 milhões de dólares para que o pai do menino retirasse a acusação.

Michael não queria isso, queria lutar para provar sua inocência. Os advogados viram que era impossível limpar aquela barra.

Quem destruir Michael Jakson, porém, não foi a justiça.

Foi a imprensa.

Começaram a dizer as piores coisas, inclusive que no seu rancho havia um subterrâneo para onde ele levava os meninos etc.

Em busca daquele esconderijo, a policia destruiu o rancho, violou o lugar, que para Michael era sagrado, e que lhe custava 6 milhões de dólares anuais só de manutenção.

Ele nunca mais voltou ao rancho.

Ele morreu com a destruição do ¨Terra do nunca¨.

Queria sair dos Estados Unidos, naturalizar-se no estrangeiro.

O seu mundo desabou, pois ele era muito sensível.

Na verdade foi era vítima de um duplo preconceito na época, por ser negro de sucesso e por ser (aparentemente) gay famoso.

Mas os negros americanos também o odiavam. Diziam que ele “mudara de cor”, tornara-se branco. Mas não era verdade. Ele sofria de vitiligo.

Os gays também desconfiavam dele, pois ele negava veemente ser gay e até casou-se com a filha de Elvis, teve filhos de barriga de aluguel etc. Tudo para parecer macho.

Depois do primeiro processo as dores de Michael aumentaram e ele passou a usar o anestésico, que o matou.

Foi um suicídio lento e consciente.

Apesar de ele ter consciência de que era o maior cantor pop do mundo, seus problemas e sua solidão se avolumaram.

Sua grandeza o matou.

O seu tempo de vida, mesmo marcado por um relógio feito de diamantes, chegou ao fim.

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