Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 228 - 2ª quinzena de novembro de 2012
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

A paisagem além da vidraça

Depois de reler um livro antigo fiquei disponível para minhas leituras de Natal, meus poetas de Ano Novo: como tecer um texto novo sem consultá-los? Como não reler Fernando Pessoa?

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade !
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei !

Depois de reler um livro antigo fiquei disponível para minhas leituras de Natal, meus poetas de antigos Natais:

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Natal festa em família dos “lares aconchegados”. Natal onde ressurgem os “sentimentos passados”, de infância, de criança, de união.

Pessoa é tão atual quanto o desfazer-se dos lares, dos laços familiares, a solidão pós-moderna. Pessoa fala por nós: a família é coisa distante, afastada, é um sentimento passado.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

Afinal o texto se opõe ao mundo: como a família lhe parece verdadeira, ou seja, como ela é real, como ela não se apaga. O sentimento profundo vem das profundezas do subconsciente, da mãe primordial inarredável, só em sonho presente nessa solidão natalina – “estou só e sonho saudade” – saudade só no solipsismo desse sopro desses “SS” – uma respiração do poema e seu suspiro profundo, materno: “coração oposto ao mundo” é o seu conflito e isolamento, o poeta não está “nos lares aconchegados”.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Mas a paisagem também lhe é desconhecida, apesar de “branca de graça”. “Branca de graça” soa nesses “AA” invernais, a paisagem é branca porque não há nada nela, porque afinal ela-mesma nem existe, e por isso é tão cheia de graça, tão pura, tão limpa, tão infantil, pois o lar não o teve nem nunca o terá.

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

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