Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Blog pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 291 - 2ª quinzena de dezembro de 2015
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

A PANTERA

33.

Um dia M. Adele me perguntou se eu queria minha própria casa de moda. Eu ia dizer que não, mas hesitei. Lembrei-me de que ela era minha cliente única.

Assim aceitei.

Financiado por ela, abri uma pequena loja num prédio de dois andares. O prédio pertencia ao seu banco. Em cima fiz um pequeno apartamento para onde me mudei e um espaço para um atelier.

Abrimos a loja na época do Natal. O prédio pertencia ao banco, que nada me cobrava. Negócio de mãe para filho.

Chamava-se Casa Amazonas.

Comecei a vender joias trazidas de Katmandhu e contratei duas funcionárias, uma costureira e uma bordadeira.

Eu tinha tudo de que precisava e comecei a fazer para clientes eventuais vestidos que eram acabados na Maison Riviere. Vendendo bem, graças a M. Adele, muito bem relacionada com a alta sociedade europeia e que me recomendava.

Assim vivia.

Para ocupar-me nos dias em que não aparecia ninguém, voltei a fazer fotografia.

Comecei a fotografar Paris, os mendigos, manequins, coloquei umas bonecas velhas, fotografei o atelier espelhado no olho de vidro de uma boneca.

Um dia a negra Bahati apareceu. Passei a fazer fotografia com ela nua.

Fotografei corpos nus masculinos e femininos em copos de vinho espelhando bonecas velhas, olhos de vidro espelhando vultos esfumaçados, um mundo de coisas espelhadas que se abriu.

Um dia, me pediram um vestido de noiva. Criei cinco véus das cinco cores, bordados de flores em ouro, prata e pedraria, e uma tiara espetacular.

Eu estava cada vez mais animado com a minha “profissão”, e quando me perguntavam há quanto tempo eu era estilista respondia “desde menino”, o que era verdadeiro, pois era o amadurecimento de tudo aquilo que aprendi com minha mãe...

Passei a criar joias e relógios, relógios amazônicos, exibindo folhas, pele de onça, rosto de pantera no mostrador etc. Joias com inspiração indígena, cocares de ouro e brilhantes para usar como golas etc. Joias que venderam bem.

O mundo da moda naquela época era para quem inventasse, as minhas joias eram únicas, quem fosse o possuidor de um dos meus relógios saberia que ninguém teria outro igual em todo mundo. Fui ao fabricante suíço para realizar minhas modificações no estilo, na cor, no fundo com pedrarias, e minha assinatura.

Depois criei uma grande série de caixinhas de música, de prata com porcelana. Foram um sucesso e vendi todas. Os fabricantes já me conheciam e eu adaptei relógios nas caixas de música e em porta-joias. Eram objetos únicos.

A seguir fabriquei jarros e móveis. Meus jarros e potes seguiam o padrão amazônico, com motivos de lagos e rios que eu desenhava.

Depois revelei minhas fotos nos jarros, deixando as distorções propositais.

Esses objetos decorativos se revelaram muito rentáveis, pois atendiam ao luxo daquelas casas elegantes. Não eram obras de arte, eu tinha consciência disso. Mas me faziam feliz e me rendiam um bom dinheiro.

Depois eu desenhei óculos, retos, largos e de várias cores. Esses modelos eu vendi para o fabricante de óculos e foi um grande negócio.

Os fabricantes me pediram depois uma nova coleção, e eu lhes dei uma nova série de óculos, coloridos e alegres para a nova temporada.

Sim, eu começava a ficar rico.

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