Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Blog pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 296 - 1ª quinzena de abril de 2016
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

A PANTERA

38.

Comecei a fotografar Jatir. Fiz dela o meu principal modelo fotográfico. O estudo começava por Jatir nua em várias atitudes.

Ao longo do livro, pois seria um livro, as fotos iam do preto e branco até a cor.

Levei um ano fazendo isso, pois não tinha pressa.

Jatir gostava e era bela e exótica, selvagem e animal, ingênua e pura, narcisista e erótica, Jatir era tudo.

Ela era realmente elegante, sabia andar, e tinha um lado animal que lembrava Jara.

Mas o projeto não saiu do papel.

Então, Madame Adele nos convidou para uma recepção na sua mansão em Biarritz. Fomos, eu e Jatir, para um pequeno hotel, às custas de Adele.

Eu nunca tinha ido àquele hotel, frente ao mar. Era um hotel muito velho, com um salão cheio de espelhos e lustres de cristal. Os garções também velhos, nos tratavam com muita gentileza.

Nós passeávamos pelos jardins do hotel, jogávamos na sala de bilhar, ficávamos na varanda do café, no restaurante e, às vezes, caminhávamos pela estrada até uma pequena praia, onde pegávamos sol. Havia poucos hóspedes ali. Lugar de repouso, de silêncio, de contemplação.

– Quantos dias você quer ficar aqui? – perguntei a Jatir.

– Não sei, respondeu ela. Poderia morar aqui...

– Você acha?

– Sim, respondeu, preguiçosamente. Tem tudo aqui que eu gosto, sol, mar, floresta...

O horizonte se estendia até o infinito. Eu contemplava o mar e sonhava. Gaivotas voavam em direção ao sol. Alguns barcos. Velas brancas.

Voltamos para o quarto, onde adormeci.

No dia seguinte fomos à mansão de M. Adele. Ela queria dois novos vestidos, e um casaco. Eu discuti com ela sobre o que ela queria, com a prancheta nas mãos. De vez em quanto ela sorria para Jatir, que olhava tudo. Por fim ela aprovou e renovou os convites para a recepção. Ela queria hospedar-nos na sua casa, mas preferimos o hotel.

-– Por que não ficam aqui? – perguntou ela.

– Por privacidade.

– Então, vocês podem usar esta casa quando estiver vazia. Às vezes passa o ano todo sem ninguém, além dos empregados...

– Ótimo, aceitamos a boa oferta, respondi.

E ela foi chamando o mordomo para dar a ele logo essas ordens...

– Essas pessoas vão usar a casa na minha ausência, Franz!

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