Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Blog pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 302
2ª quinzena de agosto de 2016
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

COPACABANA, COPACABANA

Depois de décadas, volto a morar em Copacabana. Lugar de velhos, como eu.

Voltei por isso, aqui tenho tudo perto, a pé, ao alcance dos meus passos lentos.

Talvez Copacabana já não tenha o glamour da juventude, quando de madrugada para passear pela praia saíam das boites aquelas belas damas cheias de jóias e depois o desjejum no Cervantes, que ainda existe.

Talvez já não existam os elegantes cafés, como a Colombo, onde era bom freqüentar ouvindo aquele piano da tarde, e todas aquelas luxuosas paredes de espelho que sumiram.

E já não existe o atelier do Dener, no Posto Seis. Nem o poeta CDA, que ali morava.

Que importa, continua o mar, como no “Canto esponjoso” de Carlos Drummond:

“Bela
esta manhã sem carência de mito,
E mel sorvido sem blasfêmia.

Bela
esta manhã ou outra possível,
esta vida ou outra invenção,
sem, na sombra, fantasmas.

Umidade de areia adere ao pé.
Engulo o mar, que me engole.
Calvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituídas.

Bela
a passagem do corpo, sua fusão
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tão absoluta
que me calo, repleto.”

Este é o poema de Copacabana. Drummond era o poeta de Copacabana, onde o vi passar, e me perfilei em reverência.

Ele vê corpos, curvas, mel sorvido sem blasfêmia, formas constituídas, sem deuses gregos, sem mitos, sem fantasmas...

Só a passagem de corpos, como o daquela garota de Ipanema que passava pelo Bar Veloso quando Vinícius estava como sempre bebendo, bebendo... engolindo o mar de cerveja que sempre bebia.

Drummond tem pensamentos curvos, ancas das ondas do mar, das mulheres seminuas, da calçada.

No fim aparecem os versos famosos, antológicos:

“Vontade de cantar. Mas tão absoluta
que me calo, repleto.”

E é assim que me sinto, em Copacabana.

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