Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Blog pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 311
2ª quinzena de fevereiro de 2017
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

CARNAVAL, CARNAVAIS

Velho imprestável hoje, que mal consegue andar e se levanta da cadeira com dificuldade, mas já fui um bom folião.
Sempre gostei do Carnaval carioca.
Quando jovem, o pai de minha amiga Maria Alice, meu amigo Capucci, com quem jogava baralho à noite, diretor do Botafogo, com ele íamos às festas no Mourisco, que rolavam até o dia raiar, quando a gente se jogava na piscina do clube, bêbados, alegres, depois de dançar em cima das mesas, gritando:

“Mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar...
Pega a chupeta, pega chupeta
Pro bebê não chorar.”

O que era uma pornografia...
Já ouviu falar em “Banho de mar à fantasia”?
Pois acontecia, pois havia na praia do Flamengo, em frente ao Aterro, quando o desfile das Escolas de samba era na Avenida Rio Branco e terminava naquela praia, onde se sambava ia até o sol nascer.
Lá acabava havendo de tudo, na maior festa, orgia absoluta. Sambistas tiravam completamente a roupa, a fantasia, e se lançavam nus ao mar, sem pudor, sem perigo, sem polícia, sem medo, sexo livre, álcool e samba, alegria geral.  
Sou dos extremos, contraditório, pois alguns carnavais passei em retiro de meditação budista, em silêncio completo.
Outras vezes acampado, em desertas praias, paradisíacas, com amigos, época de ouro dos acampamentos em praias isoladas, em Búzios, Ilha Grande, Prainha, quando os milionários apareciam em Mercedes ou iates de luxo, famosos, ricos, libertos.
O mundo do Carnaval onírico, fantasia da realidade, representada em filmes como “Orfeu” e “Lira do delírio”.
Festa simbólica, suprema, imprevisível, de rua, de samba no pé, mas também desfiles luxo no Municipal, no Copacabana Pálace, e  em festas gays na Praça Tiradentes, tão internacionalmente famosas que dizem até o Maestro Leonard Bernstein veio certa vez incógnito para numa delas sambar.
O melhor acontecia no espaço livre do público, no espaço público, no passar do baticum estrilado das Escolas de Samba, quando chegamos a levar Rose Marie Muraro ao sambódromo, lembrou-me o amigo Marcelo, neto de Capucci.
E que escrevi poemas, como:

“Nesse carnaval entôo em surdina
breve texto esta canção
desenvolvendo a paisagem cristalina
tinta azul, papel na mão
espuma do ar mantida em vestes finas
toldo de amor que aparelha e envolve
e te molesta a alegria matutina
passando o pente o tema a minha senha
e ergues a tricotar a estrela fescenina
brincando de tua passarela
e sonhada é férrea a tua serpentina
borboleta de papel de seda
que me despeço de tua face de menina
teu aço besuntado de abelha”.

Poema de carnaval muito popular, que agradou, que anda na Net, que circula em sites e blogs já sem meu nome, quando no carnaval que se aproxima.
Sim, gosto de carnaval, ou melhor, gostava mais quando jovem.
Hoje velho mas não triste, já não subo nas mesas a cantar, a sambar, a rir e a gritar na alegria das serpentinhas e nos brilhos das alegorias.
Nem mais bebo do cálice das belezas cariocas com aquela exuberância da década de 60.
Mas a culpa não é minha.
O mundo mudou, o carnaval mudou, não só eu.
O carnaval dos inocentes acabou, tornou-se agreste, comercial.
Mas ainda belo, rico, colorido, enfeitado e quente.

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